Apresentação

Pra quem acredita que a lua-de-mel não acaba quando voltamos da viagem...

terça-feira, 24 de abril de 2018

Não existe alma gêmea

Já faz um bom tempo que eu não escrevo aqui. Hoje vou deixar um texto que não é de minha autoria. Quem o fez foi Marcos Piangers, que é bem conhecido na internet. Eu amo todos os textos dele, principalmente sobre paternidade. Mas, nesse blog, eu não poderia deixar de fora esse texto lindo sobre almas gêmeas. Recebi de uma amiga e vi que esse texto tem circulado na internet. E essa é uma das maior E verdades que já li sobre relacionamentos.


"Não existe alma gêmea

Eu sei que você quer que exista. Ficaria muito mais bonito eu fazer um texto bonito aqui, dizendo que existe alma gêmea, que em algum lugar a pessoa certa está te esperando. Uma pessoa que seja amor à primeira vista e que seja o preenchimento de todo o vazio emocional que você sempre sentiu. Uma pessoa que te complete e que faça isso de forma natural, não forçada, meio mágica. Essa pessoa não existe.

Vou dizer o que existe. Existe você bem e feliz e tão radiante que todo mundo acha você interessante. Existe um ou outro hormônio, uma ou outra substância que funciona como mensageiro fisiológico, existe coincidência de encontros, cheiros e conversas que te deixam ainda mais feliz e confiante. Mas não existe alma gêmea.

Porque nossa alma gêmea um dia acorda com cabelo desarrumado e um bafo terrível. Você descobre que a sua alma gêmea odeia sua série favorita, não gosta de viajar e tem nojo de sushi. E como pode ser sua alma gêmea se não gosta de voz e violão em bar? E você começa a pensar que talvez aquela ali não seja sua alma gêmea. Meu deus, minha alma gêmea está em algum lugar e eu aqui, com esse entulho!

Mas não existe. As almas se tornam gêmeas. Elas não nascem assim. Você vai abrindo mão de umas coisas e a alma da outra pessoa abre mão de outras. Um aprende a comer comida japonesa, outro começa a simpatizar com música ao vivo. Um começa a acordar cedo pra tomar café da manhã junto, outro aguenta até meia-noite pra assistir filme abraçado. Um vai lendo os mesmos livros do outro. Um vai concordando com aquilo que você disse outro dia sobre aquela coisa que eu discordei na época. Um vai ficando meio parecido com o outro. Um vai pegando coisa do outro, outro vai pegando coisa do um. Tem vezes que dói um pouquinho, mas as almas vão ficando parecidas.

Vão ficando tão parecidas. Tão parecidinhas. Que coisa. Parece até que são gêmeas."

sábado, 7 de abril de 2018

Amor! Cadê Minha Aliança?

Passei praticamente esse último janeiro longe da Dona Moça. Fui dar uma estudada três estados ao sul enquanto minha amada esposa permaneceu em casa. Como o curso foi bem intenso, não tinha muito tempo pra eu lembrar que estava sozinho durante a semana. Aulas durante 9 horas por dia, estudar por conta e mais o cotidiano necessário da sobrevivência com dignidade não deixavam muito tempo livre. Aos sábados, tem o culto pela manhã e sempre alguma família de irmãos da igreja me convidava pra almoçar e passar a tarde. E então chegava o domingo.

Domingo era um dia que não passava. Tinha o que fazer. Muita coisa pra estudar, pra ler, pra escrever... Mas o cérebro tem um limite de tempo para trabalho intelectual ininterrupto (a paciência também). Até as coisas que eu fazia pra distrair a cabeça eventualmente me deixavam entediado rapidamente. Depois disso, a solidão martelava na minha cabeça. Falávamos por telefone todos os dias, mas nunca é a mesma coisa que ao vivo. Ainda bem que até os domingos passaram. Até que, numa fatídica segunda feira...

Antes de continuar com essa história, preciso abrir parênteses nisso aqui.

(

Eu tenho um maldito hábito de sempre ter que tirar a aliança quando vou molhar as mãos. Vou lavar a louça: tiro a aliança. Tomar banho: sem aliança. Colocar roupa de molho, lavar as mãos, passar gel no cabelo... Tudo que me faça secar as mão depois me faz tirar a aliança. Até enquanto estou dando aula eu a tiro e coloco no polegar, porque o anelar está muito suado. E eu sei que esse hábito dos infernos vai me fazer perdê-la qualquer dia, pois eu nunca lembro onde eu coloquei. É esse hábito que justifica o título desse texto, pois a Dona Moça sempre sabe onde estão minhas coisas. Pronto, posso fechar parênteses agora.

)

Acordei na segunda feira um pouco mais cedo do que acordaria se fosse direto pro curso. Fazia isso todos os dias, pois prefiro acordar mais cedo pra estudar do que ir dormir mais tarde fazendo isso. Enquanto estudava, percebi que estava sem aliança. "Bom, normal... Tomei banho antes de dormir e não coloquei de volta.", pensei na hora. Depois de estudar, ia pegar na prateleira acima da pia do banheiro, onde tinha deixado todos os dias da viagem. Todos os dias, menos esse.

Cheguei no banheiro e quando olhei pra prateleira acima da pia surgiu uma frente fria no meu estômago que se espalhou pelo corpo todo. E agora, pra quem eu ia perguntar "cadê minha aliança?". Eu estava lá, a mais de mil quilômetros da pessoa que sempre sabe onde eu coloco as minhas coisas e o desespero começou a bater. Procurei nos lugares normais e nada. Procurei nos lugares anormais e nada. Procurei nos corredores do hotel, na garagem e em lugares que eu nunca tinha ido (o desespero faz isso com a gente), e nada. Chegou uma hora que eu precisava me arrumar pra ir pro curso então forcei uma falsa calma e fui tomar banho. Fui pegando as roupas, a toalha e então, pendurada no gancho do banheiro, encontro a dita cuja. Me senti a homem da dracma perdida (referência de crente). Um alívio indescritível quase me fez sair do chão. Com a aliança no dedo, segui o meu dia.

Você, incauto leitor, pode estar pensando "Nossa, mas a Dona Moça deve ser muuuuito ciumenta pra te deixar desesperado assim!". Já lhe digo então que esse, nem de longe, foi o motivo do meu nervosismo. Em reflexão posterior ao fato comecei a tentar entender o porquê de ter sentido-me assim e concluí que eu não queria chatear alguém que amo tanto. Somando isso à solidão dominical, não me surpreende todo esse nervosismo.

Se eu não achasse a aliança, eu pensei que a Dona Moça ia ficar chateada por eu não dar a devida importância a um objeto que simboliza o que sentimos um pelo outro. Com a mente mais clara, eu sei que ela não pensaria assim e ficaria chateada ao meu lado e não por minha causa.



Apesar de essa história ter um final feliz, ela me pôs a pensar. Será que eu sempre tenho tanto receio em chatear a Dona Moça? Será que eu sempre considero os sentimentos dela nas coisas que faço, nas palavras que digo ou nas decisões que eu tomo? Parando para pensar nisso, percebi que não. Eu não tomo esse cuidado todo. Aliás, eu tomo mais cuidado em não chatear as pessoas que nem são próximas a mim e isso é muito sem sentido. Em conjecturas, concluí que faço isso pois tenho a certeza do perdão da Dona Moça. Mas qual é o sentido em depender da certeza do perdão no lugar de buscar a constância do entendimento?

Depois essa epifania que tive, refleti e cheguei a algumas conclusões:

1) Eu tenho um monte de defeitos.
2) Eu sei usar muito bem as palavras e sempre parecer convincente.
3) Quando estou irritado falo coisas que não realmente penso só para machucar a pessoa com a qual discuto.

Essas três conclusões, juntas, são uma bomba. Além de falar com o intuito de ferir, eu sou bem convincente quando faço isso. Esse defeito, na minha opinião, é o meu pior. Ao entender isso, o intervalo entre o que penso e o que falo aumentou consideravelmente, tentando sanar essa característica tão infincada na minha personalidade.

Quantas vezes, por falta de reflexão e auto-conhecimento, não somos o melhor que poderíamos ser para a pessoa que amamos? Quantas vezes, por impulso e raiva, falamos o que não queremos só pra "provar" que estamos certos? Eu quero ser sempre uma pessoa melhor pra Dona Moça e eu vejo o esforço constante dela no mesmo intuito. 

E você? O quão melhor seria o seu relacionamento se você refletisse e buscasse melhorar os seus defeitos? O quão melhor seria se você não dependesse constantemente do perdão da pessoa amada?  O perdão deve ser condição de existência de um casamento, isso é fato! Eu só não creio que a certeza do perdão deva substituir a constante busca de ser melhor para quem se ama.

Espero que isso tenha feito algum sentido e que minha experiência seja útil para alguém.

1 Amplexo.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O Demônio da Garagem

Uns tempos atrás estava entrando em casa e a Dona Moça vira pra mim e começa o seguinte diálogo:
- Você viu o demônio aqui atrás?
- Não... Não vi não. Quer que eu mate?
- Não, pode deixar que eu dou conta aqui,
Depois disso ela pegou a vassoura e matou uma aranha do tamanho da palma da minha mão. Foi tanta pancada que acho que até hoje deve ter alguma pata impressa no piso da garagem. 

Acho um tanto engraçado em perceber como nós, com menos de 2 anos de casamento, já formamos alguns verbetes nossos. Palavras que, fora do nosso contexto, não fariam sentido. Essa relação entre os detestáveis artrópodes de 8 patas com seres das trevas foi iniciativa minha. Eu não gosto de aranhas. Não sei se posso ser classificado como aracnofóbico, mas eu realmente não tenho muita coragem pra lidar com esses bichos. 

Ano passado, passamos por uma situação parecida, com uma maldita aranha na nossa frente quando estávamos prestes a entrar em casa. Dona Moça, sabendo do meu medo, se prontificou a matar o bicho. Nisso, eu disse "Não, deixa que eu vou. Preciso perder o medo disso!". Peguei a primeira coisa que vi na minha frente que poderia ser usada como arma e ataquei enquanto bradava:
- MORRE DEMÔNIO!
A partir daí que surgiu a automática relação entre 'aranha' e 'demônio' na nossa casa. E claro que houve uma certa (e recorrente) zoação por parte da Dona Moça. Acharia meio estranho se não houvesse, pra dizer bem da verdade. Mas vamos ao porquê de estar contando esse vexame de sair correndo de aracnídeos.

Creio que você percebeu ao ler que, em ambos os casos, a Dona Moça se colocou a frente. Ela conhece meu medo, sabe que ele existe e, sempre que pode, me protege do que me amedronta. Minha suposta aracnofobia foi só uma desculpa pra chegar a esse tema. Há muitos outros medos com que tenho que conviver, e creio que não seja diferente para ninguém. Há o medo relacionado ao futuro, relacionado ao trabalho, aos estudos, à criação de futuros filhos (calma gente, estou só conjecturando). Há medos que são desconhecidos até que uma situação mostre sua existência.  Mas, pra todos esses medos, eu sei que posso contar com a proteção da mulher que eu amo.

Posso estar parecendo um tremendo bunda mole falando isso, mas creio que é só, no máximo, excesso de honestidade. Ter alguém com quem se pode compartilhar os maiores temores e se sentir protegido e não exposto ao fazer isso é algo que traz um alívio e uma segurança que não aconteceriam se eu os escondesse.

Me parece que, no ímpeto de não se perder a individualidade, muita gente perde a oportunidade que existe no conversar sobre o que é difícil. De levantar assuntos delicados, que dificultam algum âmbito da vida. Vendo a dinâmica que a Dona Moça e eu estamos desenvolvendo no nosso lar, percebi que essa é uma oportunidade a não ser perdida. É ótimo papear sobre o que está bom. Contar como foi o dia e compartilhar esperanças e expectativas é realmente maravilhoso. Só não podemos ignorar o potencial que existe no difícil.

Da mesma forma que a Dona Moça me ajuda nos meus medos, tento ajudar nos delas. Aliás, um tanto de vezes, o medo é compartilhado e aí que precisamos mais do apoio um do outro. Agindo dessa forma, percebo que as fundações do nosso relacionamento são fortalecidas cada vez mais. Ao compartilhar tudo, nos entendemos melhor. Ao expor o medo, o superamos juntos. Nisso tudo, nos tornamos mais próximos. E, caminhando sempre juntos, eu percebo que eu a amo ainda mais.




1 Amplexo!