Apresentação

Pra quem acredita que a lua-de-mel não acaba quando voltamos da viagem...

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Vazio

Nosso filho Giovanni não foi planejado. Veja bem, isso não significa que ele não foi desejado, e muito menos amado. Eu o amava antes de ele existir e sonhava com o dia que o teria em meus braços. Só aconteceu de ele vir no momento que nós achávamos que não era o melhor.
Eu escrevi sobre isso em outros textos. E somos muito gratos por Deus ter nos dado o Giovanni.

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Ao longo do seu crescimento fomos conhecendo sua personalidade. E que calor no coração ao descobrirmos como ele é carinhoso. Ele ama abraços, beijos, carinho e bebês. Isso mesmo, toda vez que vê um bebê ele quer fazer carinho e é como se sorrisse com os olhos ao passar a mão no pezinho de um bebê.

Nosso filho é puro amor.

Como ele é a única criança da família, decidimos que ele precisava de um companheiro pra vida. E eu engravidei novamente.

Aqueles 2 riscos de positivo me encheram de emoção. Dessa vez nós planejamos, estávamos num bom momento, trocamos de carro por um maior... era o melhor momento na nossa cabeça.
Giovanni ganhou camisetas escrito "irmão mais velho" e já apontava pra minha barriga dizendo "bebê".

Durou pouco. Apenas 7 semanas. Foi quando veio o sangramento e confirmamos que o fato de ainda não termos conseguido ouvir o coração era porque aquela gravidez não continuaria. Foi interrompida. Pelo meu próprio corpo.

Meus sonhos foram interrompidos naquele momento também. As camisetas de irmão mais velho foram colocadas numa gaveta que nunca abrimos, juntamente com os presentes que as pessoas já tinham nos dado pro novo bebê.

Eu já não era mais mãe de dois. Para quem me visse, tudo estava igual.
Mas no meu coração existia um vazio enorme, maior que o vazio que agora tinha em meu útero. O lugar que eu separei pro meu bebê que não nasceu ainda estava lá. E ainda que eu tenha outros bebês um dia, aquele espaço vai ser eternamente do bebê que eu planejei.

A dor da perda, física e emocional, era tão grande que o engasgo está na minha garganta ainda três meses depois. O sorriso do Meu Bem quando recebeu a notícia também está só na memória. Giovanni ainda não entende o que aconteceu. Mas não tão cedo veremos seus olhos brilharem pelo bebê que ele tanto queria.

Muitas pessoas, COM A MAIOR BOA VONTADE DO MUNDO (que fique claro que não é por maldade), tentaram me consolar dizendo:
"Ainda bem que foi agora no começo"
"Mas pelo menos não chegou a nascer"
"Você ainda pode engravidar de novo"
"Pelo menos você já tem um filho"

E por aí vai...

Não me leve a mal, mas essas frases não consolam mãe nenhuma.
Perder um filho (adulto, adolescente, criança, bebê, recém-nascido, no meio da gestação ou ainda sem nunca ter ouvido seu coração), e junto com esse filho perder sonhos, expectativas e planos que foram criados, é devastador para qualquer família. 

Todas as mulheres com quem conversei, e que perderam algum bebê um dia, me disseram a mesma fala: ERA MEU BEBÊ. Não importa se era no início da gravidez, não importa se quase ninguém sabia, não importa se um dia eu poderia ter outro... aquele que se foi era o MEU BEBÊ. E isso dói.

Eu não entrei em trabalho de parto na gestação do Giovanni, então quando eu sofri o aborto não sabia comparar se aquela dor física era igual ou não. Mas amigas e conhecidas que passaram pelas 2 experiências me confirmaram o que eu já esperava. Dói tanto quanto, mas o aborto acaba antes. E isso ainda nem é consolo, porque durante um trabalho de parto você pode ficar 24h com dor, mas no final tudo será esquecido quando ouvir o choro do seu bebê.  Num aborto, o único choro que vem depois de toda aquela dor é o seu próprio choro.

Eu pensei muito antes de escrever esse texto. Pensei muito mais antes de postá-lo. Editei o mesmo umas 3 ou 4 vezes. Mas quando descobri que dia 15 de outubro é o dia da Conscientização da Perda Gestacional e Neonatal (no mesmo dia que completa 3 meses que perdi o meu bebê), eu decidi que deveria postar. Porque as pessoas precisam saber que dói. Que dói muito. Fisicamente é terrível, mas emocionalmente te destrói, porque uma perda dessas leva seu filho e te deixa com um vazio. As pessoas precisam saber que é difícil falar sobre isso. Que quase ninguém quer te ouvir. Porque pra quem nunca perdeu um bebê, parece loucura ou bobagem sofrer tanto por alguém que nem nasceu.

Mas você que perdeu um bebê, saiba que você não está sozinha. E isso não é o fim. É difícil, mas a vida continua. E deixo aqui meu abraço pra você. 

O que isso faz com um casamento?
Destrói os fracos. Edifica os fortes.
Só um casamento fortalecido é capaz de passar pela perda de um filho (de qualquer idade) e sair ileso, e ainda mais forte.

Nesse dia, eu e o meu bem éramos tudo o que tínhamos. Porque o nosso bebê era um sonho nosso. E agora não tinha mais sonho.

Hoje voltamos a sonhar. Mas porque nunca soltamos a mão um do outro.
Somos nós dois, até o fim da vida. Na alegria ou na tristeza. Ganhando ou perdendo. Sonhando ou reconstruindo sonhos. Até que a morte nos separe.

Nossa bagagem para as bodas de ouro está ficando pesada, mas a gente reveza. Cada um carrega numa parte do caminho, tentando suavizar as dores. Chegaremos lá. Com cicatrizes do caminho. Do caminho, nunca de nós dois.

(Escrito em 07/10/2019)

(Se você quiser saber como consolar uma pessoa nessa situação eu aconselho que telefone ou mande uma mensagem fazendo uma oração por ela. Se você tiver muita intimidade com essa pessoa, você pode se prontificar a fazer alguns pratos de comida e deixar na casa dela, para ela não precisar se preocupar em cozinhar enquanto está ali, perdendo sangue e fraca. Se você for mais do que íntimo, pode se oferecer para guardar os itens do bebê que se foi em sua casa e, quando ela estiver emocionalmente fortalecida, devolver a ela ou ajudar a doar esses itens, dependendo do que a família decidir.)

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Misericórdia

Meu pai está internado há mais de uma semana. Complicações de um problema que ele tem no fígado.
Ontem fui visitá-lo e fiquei um tempão vendo vídeos no YouTube com ele. Mostrei-lhe algumas músicas que gosto e fui traduzindo enquanto ouvíamos.

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Quando lhe mostrei a música "Mary, did you know?", ele ficou claramente emocionado, com lágrimas nos olhos e me disse uma frase que eu nunca vou esquecer.
"Filha, é impossível não se emocionar com a história de Jesus, não é?".

Ah, pai.. se você soubesse o eco que essa frase gritou dentro do meu coração...
Claro que é impossível não se emocionar com a história do Criador, Salvador e Redentor desse mundo! A história dele se confunde com a nossa. Só existimos e temos vida, e nossa história só continua porque um dia Ele escreveu a história Dele nesse mundo. E Ele só precisou escrever a história Dele por aqui por causa da nossa história de pecado.
Como não se emocionar com a história de quem amou incondicionalmente a ponto de dar a própria vida por que jamais mereceu?

Não consegui não pensar em como a bíblia fala sobre casamento. Pede que as mulheres sejam submissas aos seus maridos (EM AMOR) e, em contrapartida,  pede que os maridos amem suas esposas COMO CRISTO NOS AMOU.

Sabe todas as vezes que você errou e pediu perdão a Deus? Ele te perdoou. Não porque você merece. Você não merece. Você não é justo o suficiente pra isso. Ele te perdoou por causa da grande misericórdia Dele.

O que te faz pensar que seu cônjuge não merece seu perdão quando ele erra? O que te faz pensar que você pode julgar mais do que o próprio Deus e escolher não perdoar os erros do seu companheiro?

Muitos casamentos acabam pela falta de perdão. Mas nós temos o maior exemplo de todos. Aquele que perdoa de bom grado, não porque merecemos, mas porque Ele é misericordioso.

Para pensar: tem você amado seu cônjuge como Cristo nos amou?


(Escrito em 07/10/2019)