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Pra quem acredita que a lua-de-mel não acaba quando voltamos da viagem...

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Cultivando a cumplicidade

Nesse final de semana que passou, eu prestei o ENEM. Esse é o segundo ano que eu presto depois de me tornar professor. Gosto de prestar a prova pra comentar com os meus alunos e compartilhar a mesma experiência que eles. Principalmente para aqueles que, como eu, são sabatistas e tem que ficar isolados desde o horário do início da prova até o por-do-sol, iniciando realmente a prova as 19 no sábado. 

Como sou professor de química e minha disciplina cai na etapa de sábado do ENEM, ir no domingo é só com muita força de vontade. Esse ano, não tive essa força de vontade. Depois de passar o sábado inteiro trancado e fazer uma prova de 90 questões é muito difícil ter vontade de ir no dia seguinte. Lógico, se eu estivesse na situação de formando de ensino médio, claramente que eu iria, prova disso foi o vestibular da minha faculdade que era exatamente do mesmo jeito.

Domingo eu acordei com pouquíssima vontade de ir. E realmente não fui. Além de todas as condições de cansaço e preguiça fazerem com que eu quisesse ficar em casa, estava combinado que durante a noite daquele domingo eu e a Dona Moça iríamos jantar com meus pais, meu irmão e minha cunhada, em comemoração ao aniversário da Dona Moça (só pra constar, o aniversário dela não foi naquele domingo, mas mês de aniversário na minha família é festa o mês todo). Eu não queria ir pra comemoração de aniversário da minha esposa todo cansado de horas de prova. Queria ir bonitinho, cheirosinho e sem cara de acabado.

E assim foi. Quando deu o horário devido, nos arrumamos e saímos em direção ao local combinado. Enquanto íamos, decidimos colocar uma playlist do Spotify para tocar. Essa playlist foi montada antes da última vez que fomos a Joinville, no aniversário da minha prima. Quando montamos essa lista, em conjunto, a Dona Moça colocou algumas músicas que eu não conhecia e, num determinado momento, começou a tocar uma dessas músicas que eu não conhecia. 

No visor do rádio do carro apareceu "Filho Adotivo". Na hora eu perguntei que música era aquela, mas a Dona Moça não lembrava. Um pouquinho depois, ela se lembrou e me disse que era do Sérgio Reis, e que eu devia prestar atenção na letra. Se você nunca ouviu essa música, clique aqui. Se você conhece essa música, sabe como ela é emocionante. E, como era de se esperar, pouco tempo depois estavam os dois chorando dentro do carro.

Nós dois somos muito emotivos, principalmente quando o assunto está relacionado a família. Depois de ouvirmos a música e estarmos naquele clima meio melancólico, começamos a conversar sobre as saudades que sentimos, as tristezas que existem faz tempo e que, apesar do tempo passar, estão sempre no coração. A falta que os avós fazem, a falta de um tio, de uma tia. Enfim, ficamos conversando sobre o quão necessário e essencial é cultivar um bom relacionamento e cuidarmos de quem amamos, pois a vida é sempre uma caixinha de surpresas.

Não sei se existem muitas pessoas que, como eu, gostam desses momentos melancólicos como o que descrevi agora. Não que eu goste de sentir saudade, mas porque lembro que, se há saudade, é porque houve felicidade e amor. Pensando um pouco mais sobre essa situação descrita, comecei a apreciá-la ainda mais, pois eu pude dividir esse momento com alguém que amo e que me ama também. Afinal, não é com todo mundo que se pode dividir um momento desses, pois se expõe os sentimentos mais sensíveis e pessoais, os assuntos que mais nos fragilizam e que normalmente temos vergonha de mostrar para as pessoas.

Pensando ainda um pouco mais, percebi como é bom poder chorar na frente da minha esposa. Esquecer essas bobagens que homem não pode chorar e debulhar meus sentimentos mais particulares e íntimos com a pessoa que decidi compartilhar minha vida. Me senti tão privilegiado de poder fazer isso. De não ter vergonha do que sinto e de poder falar exatamente tudo o que passa dentro da minha cabeça com ela.

Naquele momento, em que nós dois mostramos uma parte importante de quem somos um para o outro, nós nos conhecemos mais um pouco. Nós entendemos um ao outro um pouco mais. Nós pudemos mostrar amor um pouco mais, de uma forma que não seria possível se não nos mostrássemos frágeis um para o outro. 

Lendo o que acabei de escrever, parece que estou falando o óbvio. Bem, e estou mesmo. O problema é que percebo que existem relacionamentos que não tem essa cumplicidade do todo, de compartilhar inclusive os sentimentos que são os mais íntimos, que mostram que não somos tão fortes ou tão infalíveis assim. 

Num mundo aonde demonstrar amor é sinal de fraqueza, poder demonstrar fraqueza a quem se ama é benção maior do que se imagina. Graças a Deus (e a Dona Moça), sou abençoado todo dia. 



1 Amplexo!

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